| sequência didática |
Sons afro-brasileiros
Nesta sequência, serão abordadas as manifestações artísticas e culturais brasileiras, com destaque para os ritmos afro-brasileiros. Serão propostas a confecção de instrumentos não convencionais e improvisações musicais.
A BNCC na sala de aula
Objetos de conhecimento
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Dança
Processos de criação
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Competências específicas
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1. Explorar, conhecer, fruir e analisar criticamente
práticas e produções artísticas e culturais do seu entorno social, dos povos
indígenas, das comunidades tradicionais brasileiras e de diversas sociedades,
em distintos tempos e espaços, para reconhecer a arte como um fenômeno
cultural, histórico, social e sensível a diferentes contextos e dialogar com
as diversidades.
3. Pesquisar e conhecer distintas matrizes estéticas e
culturais – especialmente aquelas manifestas na arte e nas culturas
que constituem a identidade brasileira –, sua tradição e manifestações
contemporâneas, reelaborando-as nas criações em Arte.
4. Experienciar a ludicidade, a percepção, a
expressividade e a imaginação, ressignificando espaços da escola e de fora
dela no âmbito da Arte.
8. Desenvolver a autonomia, a crítica, a autoria e o
trabalho coletivo e colaborativo nas artes.
9. Analisar e valorizar o patrimônio artístico nacional e
internacional, material e imaterial, com suas histórias e diferentes visões
de mundo.
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Habilidades
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Dança
(EF69AR12) Investigar e experimentar procedimentos de
improvisação e criação do movimento como fonte para a construção de
vocabulários e repertórios próprios.
(EF69AR13) Investigar brincadeiras, jogos, danças
coletivas e outras práticas de dança de diferentes matrizes estéticas e
culturais como referência para a criação e a composição de danças autorais,
individualmente e em grupo.
(EF69AR14) Analisar e experimentar diferentes elementos
(figurino, iluminação, cenário, trilha sonora etc.) e espaços (convencionais
e não convencionais) para composição cênica e apresentação coreográfica.
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Objetivos de aprendizagem
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Investigar diferentes manifestações artísticas e culturais
brasileiras, com destaque para os festejos populares.
Experimentar danças típicas do Brasil, explorando os
elementos da linguagem da dança.
Pesquisar e conhecer as músicas comumente associadas às
manifestações investigadas.
Valorizar os costumes e as tradições de diferentes povos.
Compreender a si e ao outro como identidades diferentes,
de forma a exercitar o respeito à diferença em uma sociedade plural.
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Conteúdos
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Festas populares brasileiras
Danças e ritmos brasileiros
Experimentação em dança
Movimento e gestualidade
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Materiais e recursos
Projetor de imagem e aparelho de som.
Lápis e canetas coloridas.
Fitas adesivas diversas, cola, tesoura e cola quente.
Retalhos de tecido, pedaços de papel colorido ou folhas de revistas velhas.
Objetos descartados ou recicláveis.
Desenvolvimento
Quantidade de aulas: 6 aulas.
Aula 1
Para dar início à aula, organizar a turma em semicírculo e realizar um levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos a respeito das danças e dos ritmos típicos brasileiros. Esse levantamento é importante para apontar as noções da turma sobre o assunto; as respostas podem variar de acordo com a região em que vivem os alunos. É interessante anotar as respostas na lousa e, a partir delas, questioná-los quanto à sua possível origem, ou seja, se o ritmo ou a dança podem ter se modificado no Brasil. As seguintes perguntas podem ser feitas para instigar a reflexão da turma:
Vocês conhecem uma música, uma dança ou um ritmo que seja característico de sua região?
Quais estilos musicais brasileiros vocês conhecem? Já pensaram sobre sua origem?
Será que os ritmos típicos do Brasil têm influência de outros países?
Vocês gostam das músicas, das danças e dos ritmos brasileiros? Para vocês, o que mais chama atenção nessas manifestações?
Será que existem músicas “boas” e músicas “ruins”? Vocês acham que as músicas e os ritmos do Brasil são “bons” ou “ruins”?
As perguntas são importantes para instigar a curiosidade, o pensamento crítico, o debate, a percepção e a reflexão sobre as manifestações culturais brasileiras. É interessante perguntar se consideram que há música “boa” e música “ruim”, pois são comuns estereótipos e preconceitos no que se refere à música nacional. A partir dessa questão, é possível anotar na lousa o nome de diferentes gêneros musicais – como funk, música clássica, rock, samba, toada, pop, rap, entre outros – e perguntar aos alunos de quais gêneros gostam, desgostam e o porquê. Provavelmente, a turma apresentará gostos variados, muitos podem gostar de determinado gênero e outros não; esse momento é propício para o professor instigar a seguinte reflexão: “Algumas pessoas gostam de samba e outras não. Assim, podemos classificar o samba como ruim ou bom?”. Espera-se que, com a reflexão, os alunos respondam que certamente não, afinal, as pessoas possuem gostos diferentes.
O propósito dessa questão é fazer com que os alunos quebrem certos estereótipos relacionados à música e desmistifiquem o preconceito de que um gênero é bom e outro ruim. A música faz parte das manifestações culturais, e as pessoas têm direito de gostar ou desgostar de uma música. É importante que, nesse momento, seja abordado também o preconceito ligado às manifestações culturais e à população de origem africana no Brasil. No início da aula, os alunos foram questionados sobre músicas, danças e ritmos típicos brasileiros, e, possivelmente, muitos desconheçam suas origens.
Para aprofundar um pouco mais o assunto, sugerimos uma mediação em que sejam apresentados diferentes ritmos afro-brasileiros, como jongo, maracatu, samba, coco, ijexá, xote, maculelê, carimbó, capoeira, entre outros. Além dos ritmos, é possível fazer conexões entre a música e as artes visuais, apresentando obras como pinturas, esculturas, performances, etc.
A ideia, ao apresentar ritmos típicos brasileiros, é possibilitar o contato dos alunos com manifestações culturais e musicais de diversas regiões do Brasil, reconhecendo a influência das matrizes brasileiras em ritmos, músicas e danças tradicionais, com ênfase para a matriz africana. Portanto, são bem-vindos, no decorrer da mediação, não só áudios de ritmos e músicas, mas vídeos de danças em festejos tradicionais brasileiros. O grupo Maracatu Nação Pernambuco, o Grupo Corpo, o bloco Olodum e as obras Jogar capoeira, de Johann Moritz Rugendas (1802-1858), e Músicos, de Carybé (1922-1997), são exemplos que podem nortear a mediação.
Perguntar aos alunos quais impressões tiveram em relação às obras, aos vídeos e às músicas apresentados, quais elementos lhes chamaram a atenção e se perceberam algo em comum entre as obras. É importante eles perceberem que as obras apresentam elementos em comum, como a temática, as manifestações e os ritmos afro-brasileiros. Os seguintes questionamentos podem ser feitos para nortear essa discussão:
O que há de comum entre as músicas e as pinturas apresentadas? Por que acham isso?
Quais ritmos estão presentes nas músicas, nas danças e nas pinturas?
Para vocês, o que são manifestações culturais?
Será que os músicos e os artistas quiseram retratar manifestações culturais do Brasil?
Procure dialogar acerca das relações entre as obras apresentadas e estabelecer conexões entre o contexto em que foram criadas e o contexto em que vivem os alunos. Por exemplo: “Que relação podemos estabelecer entre uma obra que retrata a capoeira criada por artistas missionários do século XIX no Brasil e uma apresentação contemporânea de capoeira?”. Pode-se perguntar se conhecem as principais características da capoeira, o contexto em que surgiu, quem a praticava e se o contexto em que as pessoas praticavam a capoeira é o mesmo de hoje.
Pode-se ainda escolher com os alunos uma música ou um vídeo para trabalhar uma frase (ou alguns compassos), analisando em conjunto as propriedades sonoras, como altura, intensidade, duração e timbre. É importante observarem: quais instrumentos podem identificar e que sonoridades produzem; se o andamento (ou a velocidade) de determinada frase é rápido ou lento; de qual local esses instrumentos podem ter se originado; entre outros aspectos.
Em seguida, uma breve experimentação pode enriquecer o momento de fruição. Uma sugestão é que tentem alcançar sonoridades próximas às dos instrumentos utilizados na frase analisada, explorando os sons corporais ou de objetos em seu entorno. A partir desses sons, os alunos podem recriar a frase rítmica utilizando a percussão corporal. Para que eles possam se guiar, é importante fazer a marcação do compasso.
Por fim, pedir aos alunos que se organizem em grupos para pesquisar um ritmo afro-brasileiro, enfatizando sua possível origem, a(s) região(ões) em que é predominante no Brasil, os principais instrumentos utilizados e as danças ou os festejos em que o ritmo aparece. Orientar os grupos para que conversem entre si, de modo que cada grupo escolha um ritmo diferente, evitando repetições. Pedir que tragam em CD ou pen drive uma música ou um vídeo do ritmo escolhido e que anotem as fontes da pesquisa.
Aula 2
Para iniciar a aula, pedir que os alunos retomem a formação dos grupos como na aula passada. Retomar brevemente os principais tópicos abordados anteriormente e, em seguida, propor que compartilhem os resultados de suas pesquisas. Os comentários podem ser breves; o importante é que os alunos apresentem as principais características e a origem do ritmo escolhido. Na lousa, anotar as palavras-chave para identificar os ritmos, considerando os seguintes tópicos:
Nome do ritmo (capoeira, coco, maculelê, jongo etc.).
Origem.
Principais características.
Principais instrumentos usados.
Regiões e festejos em que o ritmo é presente.
Vale lembrar que as origens dos ritmos afro-brasileiros ainda são muito discutidas, afinal, muitas características ou elementos africanos são incorporados às manifestações culturais e artísticas, que se modificam e enriquecem, ganhando características próprias. Para que todos os grupos apresentem o ritmo escolhido, será preciso calcular a quantidade de músicas ou vídeos. Se a turma estiver organizada em muitos grupos, será necessário exibir somente alguns trechos do material pesquisado.
Nesse momento, a ideia é que ocorra a troca das informações investigadas pelos alunos. Fazer alguns apontamentos para questões, como a presença da matriz africana e sua importância/contribuição não só para as manifestações artísticas e culturais brasileiras, mas também em outros âmbitos (social, histórico etc.). O intuito é observar a mescla entre culturas de diferentes povos e países, bem como a maneira como o sincretismo é marcante não só na sociedade, mas também na música e nos ritmos brasileiros.
Durante a conversa, cada aluno pode apontar qual ritmo lhe chamou mais a atenção, quais instrumentos achou interessantes, se já conhecia ou se participou de festejos em que esses ritmos aparecem. Outros pontos a serem analisados nos vídeos de danças e festejos são os elementos do cenário (se houver), o figurino e a dança.
Para a próxima aula, pedir que os grupos pesquisem pelo menos dois instrumentos característicos do ritmo que escolheram anteriormente. Por exemplo, se um grupo pesquisou a respeito do jongo e escolheu os tambores caxambu e candongueiro (predominantes nesse ritmo), poderá investigar formas de confeccioná-los com objetos acessíveis. Os grupos deverão coletar objetos recicláveis ou descartados, miudezas sem uso e materiais orgânicos, como sementes, pedras e outros. Com esses materiais e com base na pesquisa realizada, deverão elaborar um esboço de como produzir os instrumentos escolhidos. Os materiais e o esboço serão utilizados na aula seguinte. Por fim, pedir que respondam às seguintes perguntas no caderno ou no Diário de Arte:
1. O sincretismo ocorre em diversas sociedades do mundo, inclusive na brasileira, onde é muito marcante. Além dos ritmos, das músicas, das danças e dos festejos, onde ou em que você percebe o sincretismo afro-brasileiro?
Resposta pessoal. Além dos ritmos, das músicas, das danças e dos festejos, são inúmeras as possibilidades de resposta. Os alunos podem notar vestimentas, religiões, comidas, costumes, lendas etc.
2. Para você, de que maneira as contribuições da matriz africana se refletem na cultura brasileira?
Resposta pessoal. Espera-se que os alunos reconheçam a trajetória dos povos africanos no Brasil, valorizando sua importância no processo de sincretismo e construção da identidade brasileira. Isso se reflete nas ricas manifestações afro-brasileiras.
Essas e outras questões podem ser registradas no caderno dos alunos, como uma maneira de avaliar o processo de ensino-aprendizagem ao longo e no final do bimestre. Sugerimos a utilização do Diário de Arte para que, no decorrer das aulas, cada aluno anote suas reflexões, palavras-chave, pontos ou tópicos significativos para ele, dúvidas, curiosidades, desenhos, colagens, ideias, registros das aulas e temas abordados.
GoodMood Photo/Shutterstock.com
Tambores djembê africanos e caxixi. Instrumentos musicais de percussão.
Aula 3
Para iniciar a aula, pedir que os alunos se organizem em grupos para a confecção dos instrumentos. A partir da pesquisa, do esboço e dos materiais coletados, é possível pensar nas sonoridades originais dos instrumentos pesquisados e testar diversas materialidades em sua confecção. É interessante que explorem as propriedades sonoras dos instrumentos; por exemplo, quais materiais produzem sons graves ou agudos, mais intensos ou suaves e longos ou curtos. Além disso, é importante que busquem atribuir aos seus instrumentos uma característica única.
Para a confecção dos instrumentos, orientar os alunos quanto ao manuseio de objetos que possam machucá-los (como aqueles com rebarbas), da tesoura e da cola quente. Para a estilização dos instrumentos, podem utilizar fitas adesivas variadas e coloridas, papéis diversos, retalhos de tecido, canetas, tintas etc. O que vale é utilizar a criatividade e a imaginação.
Após a confecção em grupo dos instrumentos, a próxima etapa será investigar maneiras de tocá-los. Cada grupo ficará responsável por pesquisar uma frase rítmica ou um pequeno trecho e demonstrá-lo na aula seguinte, utilizando os instrumentos confeccionados. Orientá-los para que pesquisem trechos simples do ritmo escolhido, podendo demonstrar simplesmente a batida.
No caderno ou no Diário de Arte, podem ser registrados o processo criativo na confecção dos instrumentos, as descobertas e as dificuldades com que os alunos depararam e o que acharam interessante ao longo dessa etapa. Ilustrações, fotografias, colagens e textos são bem-vindos para compor esse registro.
Aula 4
Pedir aos alunos que se organizem em semicírculo (ou em círculo) e combinar uma forma para demonstrarem o ritmo investigado com os instrumentos que confeccionaram, de modo que todos se sintam confortáveis. Uma sugestão é que o grupo demonstre uma vez o ritmo e, em seguida, os demais grupos tentem reproduzi-lo com seus instrumentos. Diversos timbres e sonoridades surgirão.
Perguntar se a turma se recorda das músicas e dos vídeos apresentados na Aula 1 para que possam estabelecer relações com a interpretação dos grupos. Nesse momento, a experimentação é essencial para que se crie uma atmosfera confortável, reflexiva e criativa, em que simultaneamente os alunos possam aguçar a percepção. É importante que, a cada demonstração, comentem a respeito de suas impressões e sensações sobre o ritmo. Em seguida, fazer as seguintes perguntas:
Qual ou quais ritmos lhe chamaram mais a atenção? Por quê?
Como seu corpo reage ao som desses instrumentos e ritmos?
Quais sonoridades você achou interessantes nos instrumentos confeccionados?
Na música, existem diversas formas de registrar, escrever e representar os sons graficamente; a partitura é uma delas. Você conhece outras formas de “escrever” os sons?
Convidar os alunos a criar uma forma de representar e escrever os ritmos demonstrados. Para isso, explicar brevemente como os sons agudos, médios e graves são representados na partitura, por meio da localização das notas no pentagrama. Pedir a alguns alunos que emitam um som de algum objeto, do corpo ou do próprio instrumento confeccionado e analisar as propriedades sonoras do som produzido. Perguntar qual onomatopeia poderia representar esse som, quais cor, textura e forma ele poderia ter; registrar na lousa as respostas. A ideia é que os alunos desenvolvam a capacidade de simbolizar e representar os sons, explorando sua grafia de maneira criativa. Convidá-los a criar uma escrita musical para um dos ritmos apresentados. Realizar essa experimentação, ainda que brevemente, para que os alunos vivenciem a notação musical não convencional. Dessa forma, poderão criar, posteriormente, partituras não convencionais e interpretá-las. Depois de terem passado por essas etapas da pesquisa e experimentação, os alunos podem nomear seus instrumentos. Todos os registros podem ser realizados no caderno ou no Diário de Arte. Pedir aos alunos para trazer os instrumentos na próxima aula ou, se for possível, guardá-los em algum local na escola.
Aula 5
Organizar os alunos em círculo e solicitar que abram o caderno ou o Diário de Arte onde registraram os sons produzidos na aula anterior e retomem o que foi discutido. Perguntar o que se lembram das experimentações passadas e das representações criadas para cada som. Convidar um aluno para escrever na lousa um dos sons registrados em seu caderno e perguntar se ele pode reproduzi-lo da mesma forma. Possivelmente, muitos alunos não vão recordar os sons representados, pois criaram símbolos e representações no momento em que ouviam os ritmos. Cada aluno criou o próprio sistema de notação, portanto um mesmo som pode ter sido representado de diversas formas. Fazer essa experiência com alguns alunos.
Em seguida, desenhar um pentagrama na lousa e pedir para um aluno produzir um som em alguma parte da sua mesa. Perguntar como a turma classificaria esse som: agudo, médio ou grave. A princípio, pode ser difícil analisá-lo, mas, se outro aluno produzir um som oposto ao do primeiro, será mais fácil compará-los e classificá-los.
O pentagrama, assim como na partitura convencional, definirá a altura dos sons (ou notas). As demais propriedades, como intensidade, duração e timbre, serão analisadas e classificadas até que a turma chegue a um consenso. Dessa forma, os alunos notarão que a escrita a partir de parâmetros possibilita a leitura musical em conjunto. No entanto, assim como os intérpretes (ou músicos), é possível interpretar um mesmo som ou partitura de formas distintas, afinal, é preciso considerar a singularidade, a poética de cada um. As perguntas a seguir podem instigar a reflexão da turma:
Vocês já ouviram falar sobre poética? O que será que ela significa?
Já ouviram uma mesma música em diferentes versões, ou seja, interpretada por vários artistas ou músicos?
A ideia é que os alunos reflitam sobre a singularidade das pessoas; é importante que eles compreendam que cada um possui sua poética, seu modo de ler e interpretar o mundo e seu entorno, de criar e recriar, de sentir e se expressar. O mesmo ocorre com a música: um som ou uma música podem provocar diferentes sensações, impressões e emoções nas pessoas.
Provavelmente, muitos já devem ter ouvido uma música em diferentes versões. Poderão perceber que, na aula anterior, ao analisarem, representarem e reproduzirem um som, eles recriaram os sons originais, atribuindo-lhes uma nova interpretação.
É importante que compreendam que não se trata de copiar o som, mas de ouvi-lo ou codificá-lo para, então, representá-lo à sua maneira. Partindo dessa ideia, propor aos alunos a seguinte experimentação coletiva: “Inspirando-se nos ritmos afro-brasileiros abordados anteriormente, criem o próprio ritmo”. Para isso, eles devem utilizar os instrumentos que criaram em grupo e outros objetos não convencionais, bem como a percussão corporal. A partir do ritmo, a ideia é que criem uma composição de 1 a 3 minutos (estipular um tempo com a turma). Para essa proposição, sugerimos a realização das seguintes etapas:
Explorar os sons dos instrumentos confeccionados, objetos variados e percussão corporal.
Criar o ritmo, registrando-o graficamente.
Criar uma escrita-padrão para representar os sons dos instrumentos.
Criar uma composição utilizando o ritmo.
Criar passos de dança para acompanhar o ritmo, se eles desejarem.
O compasso utilizado pode ser de um dos ritmos pesquisados pelos alunos, porém é válido que explorem outros compassos. O ritmo será a base da composição: ele poderá ser criado a partir dos sons dos instrumentos, dos sons corporais ou de objetos variados. Tendo o ritmo como base, os alunos poderão compor e improvisar diferentes sons.
A composição será registrada por meio de notação musical não convencional e, para isso, os alunos poderão combinar formas, figuras, linhas, cores, texturas e outras formas de simbolizar ou representar os sons. Durante o processo, orientá-los em relação à construção dos compassos e à marcação da pulsação. É essencial esclarecer as dúvidas da turma e acompanhar de perto o processo criativo de cada um. Para essa proposta, será necessário mais de uma aula.
Alena Kaz/Shutterstock.com
Instrumentos da capoeira.
Aula 6
Começar a aula estipulando um tempo para que os alunos finalizem a atividade de registro não convencional da composição musical que iniciaram na aula anterior. Depois, pedir que se organizem em círculo. Perguntar quais impressões tiveram das experimentações e o que acharam mais interessante e significativo ao longo das aulas. Aproveitar o momento para obter um feedback em relação às propostas. Individualmente, cada aluno pode registrar suas impressões finais dos processos de criação e diálogos realizados. O Diário de Arte será uma ferramenta para auxiliar no processo avaliativo; além disso, o aluno pode realizar uma autoavaliação ao analisar, registrar e refletir sobre seu desenvolvimento pessoal e criativo. Propor aos alunos que apresentem sua composição para outras turmas da escola e combinar com a direção local e dia para a apresentação.
Por fim, pedir que reflitam e respondam à seguinte questão:
Nas aulas iniciais, vocês responderam a uma pergunta sobre a importância das contribuições da matriz africana para as manifestações culturais e artísticas brasileiras. Depois de todo o diálogo e dos processos pelos quais vocês passaram, tentem responder novamente a essas questões e perguntem-se: “algo mudou em meu ponto de vista?”.
Os alunos podem compartilhar suas respostas e observações com os colegas.
Para trabalhar dúvidas
Algumas dúvidas podem surgir ao longo das aulas e é essencial observar atentamente a turma, orientando-a quando necessário. Uma possível dúvida que pode surgir é em relação à notação musical. Muitos alunos podem não ter tido contato com a partitura convencional, e o primeiro contato pode ser muito abstrato para eles. Nesse caso, sugerimos mostrar aos alunos algumas imagens de partituras não convencionais para que compreendam como se dá a relação simbólica ou representativa entre os sons e as maneiras de representá-los graficamente. A utilização do pentagrama de maneira não convencional é importante para que os alunos se habituem à escrita musical.
Ao longo das discussões, os termos matrizes africanas e sincretismo aparecerão frequentemente. Se surgirem dúvidas em relação a esses termos, retomar a conversa e esclarecê-las. Para que os alunos percebam a influência da matriz africana nos ritmos ou nas danças, pedir para pesquisarem danças ou ritmos típicos de algumas regiões da África que podem ter influenciado as danças e os ritmos brasileiros. Exibir um vídeo de uma dança ou um ritmo afro-brasileiro e, em seguida, de uma dança ou um ritmo da África. Perguntar se os alunos observam semelhanças tanto nas sonoridades dos instrumentos quanto nos passos de dança.
Ampliação
Organizar uma exposição interativa na escola com o tema cultura afro-brasileira. As manifestações artísticas e culturais podem ser compartilhadas com outras turmas por meio de uma exposição em que os alunos apresentem sua composição musical e, ao mesmo tempo, os instrumentos confeccionados por eles.
A exposição pode funcionar da seguinte maneira: os alunos podem se dividir em grupos e cada grupo fica responsável por planejar um espaço. Por exemplo: na exposição, pode haver um espaço para expor os instrumentos musicais (que também podem ser espalhados), outro para a apresentação da composição dos alunos e outro ainda para expor imagens, fotografias, colagens e textos de autoria dos alunos, contendo curiosidades, observações e informações sobre a cultura afro-brasileira. Os visitantes podem interagir com os instrumentos ao longo da exposição.
Combinar com a direção da escola uma data e um local para realizar a exposição e pedir para os alunos pesquisarem algumas exposições, investigando as possibilidades de organizar uma na escola.
Materiais e recursos
Projetor de imagem e aparelho de som.
Lápis e canetas coloridas.
Fitas adesivas diversas, cola, tesoura e cola quente.
Retalhos de tecido, pedaços de papel colorido ou folhas de revistas velhas.
Objetos descartados ou recicláveis.
Desenvolvimento
Quantidade de aulas: 6 aulas.
Aula 1
Para dar início à aula, organizar a turma em semicírculo e realizar um levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos a respeito das danças e dos ritmos típicos brasileiros. Esse levantamento é importante para apontar as noções da turma sobre o assunto; as respostas podem variar de acordo com a região em que vivem os alunos. É interessante anotar as respostas na lousa e, a partir delas, questioná-los quanto à sua possível origem, ou seja, se o ritmo ou a dança podem ter se modificado no Brasil. As seguintes perguntas podem ser feitas para instigar a reflexão da turma:
Vocês conhecem uma música, uma dança ou um ritmo que seja característico de sua região?
Quais estilos musicais brasileiros vocês conhecem? Já pensaram sobre sua origem?
Será que os ritmos típicos do Brasil têm influência de outros países?
Vocês gostam das músicas, das danças e dos ritmos brasileiros? Para vocês, o que mais chama atenção nessas manifestações?
Será que existem músicas “boas” e músicas “ruins”? Vocês acham que as músicas e os ritmos do Brasil são “bons” ou “ruins”?
As perguntas são importantes para instigar a curiosidade, o pensamento crítico, o debate, a percepção e a reflexão sobre as manifestações culturais brasileiras. É interessante perguntar se consideram que há música “boa” e música “ruim”, pois são comuns estereótipos e preconceitos no que se refere à música nacional. A partir dessa questão, é possível anotar na lousa o nome de diferentes gêneros musicais – como funk, música clássica, rock, samba, toada, pop, rap, entre outros – e perguntar aos alunos de quais gêneros gostam, desgostam e o porquê. Provavelmente, a turma apresentará gostos variados, muitos podem gostar de determinado gênero e outros não; esse momento é propício para o professor instigar a seguinte reflexão: “Algumas pessoas gostam de samba e outras não. Assim, podemos classificar o samba como ruim ou bom?”. Espera-se que, com a reflexão, os alunos respondam que certamente não, afinal, as pessoas possuem gostos diferentes.
O propósito dessa questão é fazer com que os alunos quebrem certos estereótipos relacionados à música e desmistifiquem o preconceito de que um gênero é bom e outro ruim. A música faz parte das manifestações culturais, e as pessoas têm direito de gostar ou desgostar de uma música. É importante que, nesse momento, seja abordado também o preconceito ligado às manifestações culturais e à população de origem africana no Brasil. No início da aula, os alunos foram questionados sobre músicas, danças e ritmos típicos brasileiros, e, possivelmente, muitos desconheçam suas origens.
Para aprofundar um pouco mais o assunto, sugerimos uma mediação em que sejam apresentados diferentes ritmos afro-brasileiros, como jongo, maracatu, samba, coco, ijexá, xote, maculelê, carimbó, capoeira, entre outros. Além dos ritmos, é possível fazer conexões entre a música e as artes visuais, apresentando obras como pinturas, esculturas, performances, etc.
A ideia, ao apresentar ritmos típicos brasileiros, é possibilitar o contato dos alunos com manifestações culturais e musicais de diversas regiões do Brasil, reconhecendo a influência das matrizes brasileiras em ritmos, músicas e danças tradicionais, com ênfase para a matriz africana. Portanto, são bem-vindos, no decorrer da mediação, não só áudios de ritmos e músicas, mas vídeos de danças em festejos tradicionais brasileiros. O grupo Maracatu Nação Pernambuco, o Grupo Corpo, o bloco Olodum e as obras Jogar capoeira, de Johann Moritz Rugendas (1802-1858), e Músicos, de Carybé (1922-1997), são exemplos que podem nortear a mediação.
Perguntar aos alunos quais impressões tiveram em relação às obras, aos vídeos e às músicas apresentados, quais elementos lhes chamaram a atenção e se perceberam algo em comum entre as obras. É importante eles perceberem que as obras apresentam elementos em comum, como a temática, as manifestações e os ritmos afro-brasileiros. Os seguintes questionamentos podem ser feitos para nortear essa discussão:
O que há de comum entre as músicas e as pinturas apresentadas? Por que acham isso?
Quais ritmos estão presentes nas músicas, nas danças e nas pinturas?
Para vocês, o que são manifestações culturais?
Será que os músicos e os artistas quiseram retratar manifestações culturais do Brasil?
Procure dialogar acerca das relações entre as obras apresentadas e estabelecer conexões entre o contexto em que foram criadas e o contexto em que vivem os alunos. Por exemplo: “Que relação podemos estabelecer entre uma obra que retrata a capoeira criada por artistas missionários do século XIX no Brasil e uma apresentação contemporânea de capoeira?”. Pode-se perguntar se conhecem as principais características da capoeira, o contexto em que surgiu, quem a praticava e se o contexto em que as pessoas praticavam a capoeira é o mesmo de hoje.
Pode-se ainda escolher com os alunos uma música ou um vídeo para trabalhar uma frase (ou alguns compassos), analisando em conjunto as propriedades sonoras, como altura, intensidade, duração e timbre. É importante observarem: quais instrumentos podem identificar e que sonoridades produzem; se o andamento (ou a velocidade) de determinada frase é rápido ou lento; de qual local esses instrumentos podem ter se originado; entre outros aspectos.
Em seguida, uma breve experimentação pode enriquecer o momento de fruição. Uma sugestão é que tentem alcançar sonoridades próximas às dos instrumentos utilizados na frase analisada, explorando os sons corporais ou de objetos em seu entorno. A partir desses sons, os alunos podem recriar a frase rítmica utilizando a percussão corporal. Para que eles possam se guiar, é importante fazer a marcação do compasso.
Por fim, pedir aos alunos que se organizem em grupos para pesquisar um ritmo afro-brasileiro, enfatizando sua possível origem, a(s) região(ões) em que é predominante no Brasil, os principais instrumentos utilizados e as danças ou os festejos em que o ritmo aparece. Orientar os grupos para que conversem entre si, de modo que cada grupo escolha um ritmo diferente, evitando repetições. Pedir que tragam em CD ou pen drive uma música ou um vídeo do ritmo escolhido e que anotem as fontes da pesquisa.
Aula 2
Para iniciar a aula, pedir que os alunos retomem a formação dos grupos como na aula passada. Retomar brevemente os principais tópicos abordados anteriormente e, em seguida, propor que compartilhem os resultados de suas pesquisas. Os comentários podem ser breves; o importante é que os alunos apresentem as principais características e a origem do ritmo escolhido. Na lousa, anotar as palavras-chave para identificar os ritmos, considerando os seguintes tópicos:
Nome do ritmo (capoeira, coco, maculelê, jongo etc.).
Origem.
Principais características.
Principais instrumentos usados.
Regiões e festejos em que o ritmo é presente.
Vale lembrar que as origens dos ritmos afro-brasileiros ainda são muito discutidas, afinal, muitas características ou elementos africanos são incorporados às manifestações culturais e artísticas, que se modificam e enriquecem, ganhando características próprias. Para que todos os grupos apresentem o ritmo escolhido, será preciso calcular a quantidade de músicas ou vídeos. Se a turma estiver organizada em muitos grupos, será necessário exibir somente alguns trechos do material pesquisado.
Nesse momento, a ideia é que ocorra a troca das informações investigadas pelos alunos. Fazer alguns apontamentos para questões, como a presença da matriz africana e sua importância/contribuição não só para as manifestações artísticas e culturais brasileiras, mas também em outros âmbitos (social, histórico etc.). O intuito é observar a mescla entre culturas de diferentes povos e países, bem como a maneira como o sincretismo é marcante não só na sociedade, mas também na música e nos ritmos brasileiros.
Durante a conversa, cada aluno pode apontar qual ritmo lhe chamou mais a atenção, quais instrumentos achou interessantes, se já conhecia ou se participou de festejos em que esses ritmos aparecem. Outros pontos a serem analisados nos vídeos de danças e festejos são os elementos do cenário (se houver), o figurino e a dança.
Para a próxima aula, pedir que os grupos pesquisem pelo menos dois instrumentos característicos do ritmo que escolheram anteriormente. Por exemplo, se um grupo pesquisou a respeito do jongo e escolheu os tambores caxambu e candongueiro (predominantes nesse ritmo), poderá investigar formas de confeccioná-los com objetos acessíveis. Os grupos deverão coletar objetos recicláveis ou descartados, miudezas sem uso e materiais orgânicos, como sementes, pedras e outros. Com esses materiais e com base na pesquisa realizada, deverão elaborar um esboço de como produzir os instrumentos escolhidos. Os materiais e o esboço serão utilizados na aula seguinte. Por fim, pedir que respondam às seguintes perguntas no caderno ou no Diário de Arte:
1. O sincretismo ocorre em diversas sociedades do mundo, inclusive na brasileira, onde é muito marcante. Além dos ritmos, das músicas, das danças e dos festejos, onde ou em que você percebe o sincretismo afro-brasileiro?
Resposta pessoal. Além dos ritmos, das músicas, das danças e dos festejos, são inúmeras as possibilidades de resposta. Os alunos podem notar vestimentas, religiões, comidas, costumes, lendas etc.
2. Para você, de que maneira as contribuições da matriz africana se refletem na cultura brasileira?
Resposta pessoal. Espera-se que os alunos reconheçam a trajetória dos povos africanos no Brasil, valorizando sua importância no processo de sincretismo e construção da identidade brasileira. Isso se reflete nas ricas manifestações afro-brasileiras.
Essas e outras questões podem ser registradas no caderno dos alunos, como uma maneira de avaliar o processo de ensino-aprendizagem ao longo e no final do bimestre. Sugerimos a utilização do Diário de Arte para que, no decorrer das aulas, cada aluno anote suas reflexões, palavras-chave, pontos ou tópicos significativos para ele, dúvidas, curiosidades, desenhos, colagens, ideias, registros das aulas e temas abordados.
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Tambores djembê africanos e caxixi. Instrumentos musicais de percussão.
Aula 3
Para iniciar a aula, pedir que os alunos se organizem em grupos para a confecção dos instrumentos. A partir da pesquisa, do esboço e dos materiais coletados, é possível pensar nas sonoridades originais dos instrumentos pesquisados e testar diversas materialidades em sua confecção. É interessante que explorem as propriedades sonoras dos instrumentos; por exemplo, quais materiais produzem sons graves ou agudos, mais intensos ou suaves e longos ou curtos. Além disso, é importante que busquem atribuir aos seus instrumentos uma característica única.
Para a confecção dos instrumentos, orientar os alunos quanto ao manuseio de objetos que possam machucá-los (como aqueles com rebarbas), da tesoura e da cola quente. Para a estilização dos instrumentos, podem utilizar fitas adesivas variadas e coloridas, papéis diversos, retalhos de tecido, canetas, tintas etc. O que vale é utilizar a criatividade e a imaginação.
Após a confecção em grupo dos instrumentos, a próxima etapa será investigar maneiras de tocá-los. Cada grupo ficará responsável por pesquisar uma frase rítmica ou um pequeno trecho e demonstrá-lo na aula seguinte, utilizando os instrumentos confeccionados. Orientá-los para que pesquisem trechos simples do ritmo escolhido, podendo demonstrar simplesmente a batida.
No caderno ou no Diário de Arte, podem ser registrados o processo criativo na confecção dos instrumentos, as descobertas e as dificuldades com que os alunos depararam e o que acharam interessante ao longo dessa etapa. Ilustrações, fotografias, colagens e textos são bem-vindos para compor esse registro.
Aula 4
Pedir aos alunos que se organizem em semicírculo (ou em círculo) e combinar uma forma para demonstrarem o ritmo investigado com os instrumentos que confeccionaram, de modo que todos se sintam confortáveis. Uma sugestão é que o grupo demonstre uma vez o ritmo e, em seguida, os demais grupos tentem reproduzi-lo com seus instrumentos. Diversos timbres e sonoridades surgirão.
Perguntar se a turma se recorda das músicas e dos vídeos apresentados na Aula 1 para que possam estabelecer relações com a interpretação dos grupos. Nesse momento, a experimentação é essencial para que se crie uma atmosfera confortável, reflexiva e criativa, em que simultaneamente os alunos possam aguçar a percepção. É importante que, a cada demonstração, comentem a respeito de suas impressões e sensações sobre o ritmo. Em seguida, fazer as seguintes perguntas:
Qual ou quais ritmos lhe chamaram mais a atenção? Por quê?
Como seu corpo reage ao som desses instrumentos e ritmos?
Quais sonoridades você achou interessantes nos instrumentos confeccionados?
Na música, existem diversas formas de registrar, escrever e representar os sons graficamente; a partitura é uma delas. Você conhece outras formas de “escrever” os sons?
Convidar os alunos a criar uma forma de representar e escrever os ritmos demonstrados. Para isso, explicar brevemente como os sons agudos, médios e graves são representados na partitura, por meio da localização das notas no pentagrama. Pedir a alguns alunos que emitam um som de algum objeto, do corpo ou do próprio instrumento confeccionado e analisar as propriedades sonoras do som produzido. Perguntar qual onomatopeia poderia representar esse som, quais cor, textura e forma ele poderia ter; registrar na lousa as respostas. A ideia é que os alunos desenvolvam a capacidade de simbolizar e representar os sons, explorando sua grafia de maneira criativa. Convidá-los a criar uma escrita musical para um dos ritmos apresentados. Realizar essa experimentação, ainda que brevemente, para que os alunos vivenciem a notação musical não convencional. Dessa forma, poderão criar, posteriormente, partituras não convencionais e interpretá-las. Depois de terem passado por essas etapas da pesquisa e experimentação, os alunos podem nomear seus instrumentos. Todos os registros podem ser realizados no caderno ou no Diário de Arte. Pedir aos alunos para trazer os instrumentos na próxima aula ou, se for possível, guardá-los em algum local na escola.
Aula 5
Organizar os alunos em círculo e solicitar que abram o caderno ou o Diário de Arte onde registraram os sons produzidos na aula anterior e retomem o que foi discutido. Perguntar o que se lembram das experimentações passadas e das representações criadas para cada som. Convidar um aluno para escrever na lousa um dos sons registrados em seu caderno e perguntar se ele pode reproduzi-lo da mesma forma. Possivelmente, muitos alunos não vão recordar os sons representados, pois criaram símbolos e representações no momento em que ouviam os ritmos. Cada aluno criou o próprio sistema de notação, portanto um mesmo som pode ter sido representado de diversas formas. Fazer essa experiência com alguns alunos.
Em seguida, desenhar um pentagrama na lousa e pedir para um aluno produzir um som em alguma parte da sua mesa. Perguntar como a turma classificaria esse som: agudo, médio ou grave. A princípio, pode ser difícil analisá-lo, mas, se outro aluno produzir um som oposto ao do primeiro, será mais fácil compará-los e classificá-los.
O pentagrama, assim como na partitura convencional, definirá a altura dos sons (ou notas). As demais propriedades, como intensidade, duração e timbre, serão analisadas e classificadas até que a turma chegue a um consenso. Dessa forma, os alunos notarão que a escrita a partir de parâmetros possibilita a leitura musical em conjunto. No entanto, assim como os intérpretes (ou músicos), é possível interpretar um mesmo som ou partitura de formas distintas, afinal, é preciso considerar a singularidade, a poética de cada um. As perguntas a seguir podem instigar a reflexão da turma:
Vocês já ouviram falar sobre poética? O que será que ela significa?
Já ouviram uma mesma música em diferentes versões, ou seja, interpretada por vários artistas ou músicos?
A ideia é que os alunos reflitam sobre a singularidade das pessoas; é importante que eles compreendam que cada um possui sua poética, seu modo de ler e interpretar o mundo e seu entorno, de criar e recriar, de sentir e se expressar. O mesmo ocorre com a música: um som ou uma música podem provocar diferentes sensações, impressões e emoções nas pessoas.
Provavelmente, muitos já devem ter ouvido uma música em diferentes versões. Poderão perceber que, na aula anterior, ao analisarem, representarem e reproduzirem um som, eles recriaram os sons originais, atribuindo-lhes uma nova interpretação.
É importante que compreendam que não se trata de copiar o som, mas de ouvi-lo ou codificá-lo para, então, representá-lo à sua maneira. Partindo dessa ideia, propor aos alunos a seguinte experimentação coletiva: “Inspirando-se nos ritmos afro-brasileiros abordados anteriormente, criem o próprio ritmo”. Para isso, eles devem utilizar os instrumentos que criaram em grupo e outros objetos não convencionais, bem como a percussão corporal. A partir do ritmo, a ideia é que criem uma composição de 1 a 3 minutos (estipular um tempo com a turma). Para essa proposição, sugerimos a realização das seguintes etapas:
Explorar os sons dos instrumentos confeccionados, objetos variados e percussão corporal.
Criar o ritmo, registrando-o graficamente.
Criar uma escrita-padrão para representar os sons dos instrumentos.
Criar uma composição utilizando o ritmo.
Criar passos de dança para acompanhar o ritmo, se eles desejarem.
O compasso utilizado pode ser de um dos ritmos pesquisados pelos alunos, porém é válido que explorem outros compassos. O ritmo será a base da composição: ele poderá ser criado a partir dos sons dos instrumentos, dos sons corporais ou de objetos variados. Tendo o ritmo como base, os alunos poderão compor e improvisar diferentes sons.
A composição será registrada por meio de notação musical não convencional e, para isso, os alunos poderão combinar formas, figuras, linhas, cores, texturas e outras formas de simbolizar ou representar os sons. Durante o processo, orientá-los em relação à construção dos compassos e à marcação da pulsação. É essencial esclarecer as dúvidas da turma e acompanhar de perto o processo criativo de cada um. Para essa proposta, será necessário mais de uma aula.
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Instrumentos da capoeira.
Aula 6
Começar a aula estipulando um tempo para que os alunos finalizem a atividade de registro não convencional da composição musical que iniciaram na aula anterior. Depois, pedir que se organizem em círculo. Perguntar quais impressões tiveram das experimentações e o que acharam mais interessante e significativo ao longo das aulas. Aproveitar o momento para obter um feedback em relação às propostas. Individualmente, cada aluno pode registrar suas impressões finais dos processos de criação e diálogos realizados. O Diário de Arte será uma ferramenta para auxiliar no processo avaliativo; além disso, o aluno pode realizar uma autoavaliação ao analisar, registrar e refletir sobre seu desenvolvimento pessoal e criativo. Propor aos alunos que apresentem sua composição para outras turmas da escola e combinar com a direção local e dia para a apresentação.
Por fim, pedir que reflitam e respondam à seguinte questão:
Nas aulas iniciais, vocês responderam a uma pergunta sobre a importância das contribuições da matriz africana para as manifestações culturais e artísticas brasileiras. Depois de todo o diálogo e dos processos pelos quais vocês passaram, tentem responder novamente a essas questões e perguntem-se: “algo mudou em meu ponto de vista?”.
Os alunos podem compartilhar suas respostas e observações com os colegas.
Para trabalhar dúvidas
Algumas dúvidas podem surgir ao longo das aulas e é essencial observar atentamente a turma, orientando-a quando necessário. Uma possível dúvida que pode surgir é em relação à notação musical. Muitos alunos podem não ter tido contato com a partitura convencional, e o primeiro contato pode ser muito abstrato para eles. Nesse caso, sugerimos mostrar aos alunos algumas imagens de partituras não convencionais para que compreendam como se dá a relação simbólica ou representativa entre os sons e as maneiras de representá-los graficamente. A utilização do pentagrama de maneira não convencional é importante para que os alunos se habituem à escrita musical.
Ao longo das discussões, os termos matrizes africanas e sincretismo aparecerão frequentemente. Se surgirem dúvidas em relação a esses termos, retomar a conversa e esclarecê-las. Para que os alunos percebam a influência da matriz africana nos ritmos ou nas danças, pedir para pesquisarem danças ou ritmos típicos de algumas regiões da África que podem ter influenciado as danças e os ritmos brasileiros. Exibir um vídeo de uma dança ou um ritmo afro-brasileiro e, em seguida, de uma dança ou um ritmo da África. Perguntar se os alunos observam semelhanças tanto nas sonoridades dos instrumentos quanto nos passos de dança.
Ampliação
Organizar uma exposição interativa na escola com o tema cultura afro-brasileira. As manifestações artísticas e culturais podem ser compartilhadas com outras turmas por meio de uma exposição em que os alunos apresentem sua composição musical e, ao mesmo tempo, os instrumentos confeccionados por eles.
A exposição pode funcionar da seguinte maneira: os alunos podem se dividir em grupos e cada grupo fica responsável por planejar um espaço. Por exemplo: na exposição, pode haver um espaço para expor os instrumentos musicais (que também podem ser espalhados), outro para a apresentação da composição dos alunos e outro ainda para expor imagens, fotografias, colagens e textos de autoria dos alunos, contendo curiosidades, observações e informações sobre a cultura afro-brasileira. Os visitantes podem interagir com os instrumentos ao longo da exposição.
Combinar com a direção da escola uma data e um local para realizar a exposição e pedir para os alunos pesquisarem algumas exposições, investigando as possibilidades de organizar uma na escola.
Fonte: PNLD